Se fosse comigo, trancaria minhas filhas dentro de casa. Seria a primeira e mais urgente medida. Não deixaria nem chegarem muito perto das portas e janelas, que eu manteria de venezianas fechadas, inclusive.
Tentaria munir-me da maior coragem possível para ir ao super mercado, para comprar o maior número de mantimentos possíveis, porque, vai saber até quando essa guerra continuará... e faria de tudo para não precisar mais sair de casa.
Passaria o dia com a TV ligada e monitorando a internet, para saber cada passo que a polícia e os bandidos estariam dando, rezando, com todas as forças, para que entrasse logo um boletim ao vivo informando que o pesadelo estava prestes a terminar.
Ligaria a cada pouco para o restante da família, mãe, pai, irmãos, sogra e sogro, avó e cunhados, pra saber se estavam bem.
E, definitivamente, estaria aterrorizada, sentindo-me no meio da guerra do Iraque! Além de, inevitavelmente, ficar imaginando como seria se as coisas piorassem.
Se você é carioca e, por ventura, estiver lendo esse texto, poderá pensar que estou sendo exagerada. Pode até ser. Mas, assim como estou tentando me colocar em seu lugar, tente colocar-se no nosso, os não cariocas, que convivem diariamente com violência e bandidagem, mas não necessariamente vêem isso acontecer de forma tão violenta, num embate direto entre exército e bandidos, correndo e atirando na frente de nossas casas.
Eu, aliás, moro no interior do Rio Grande do Sul (serra gaúcha) e agradeço a Deus todos os dias por essa sorte, apesar de um dia já ter querido morar na capital. Mas, depois que temos filhos, damos valor redobrado à segurança e ao bem estar dos que amamos.
Ou poderá acontecer o contrário. Se você for um carioca que presenciou alguma das barbaridades que aqui só vemos pela tela, provavelmente irá dizer: "Você não viu nada! Não sabe da missa a metade. Não tem nem ideia do que seja morar no meio do terror." Então, serei obrigada a admitir: realmente só posso imaginar, não tenho ideia do que seja passar por isso de verdade. E tenho pavor só de pensar nisso.
Assistindo depoimentos de alguns moradores do Rio vi o imenso esforço que fazem para manterem suas rotinas, muitas vezes contra a própria vontade, em função do medo. Mas, mais do que medo, querem PAZ! Todos, moradores de zonas de risco ou não, todos querem uma solução - e URGENTE - mesmo que isso signifique colocar suas vidas ainda mais em risco. Que lhes resta? Confiar. Na polícia, no governo, na própria sorte, em Deus.
E resta-nos admirar sua coragem e confiança em dias melhores. Sim, porque todos os entrevistados, impressionantemente, mantém sua fé intacta. Resta a nós, os de longe, nos solidarizarmos, e continuarmos as nossas rezas e apelos para que isso não se torne um mal crônico do Brasil, se é que já não chegamos lá.
O Rio de Janeiro é, sem dúvida, uma cidade maravilhosa (já a visitei por duas vezes) e seus cidadãos bravamente continuarão lutando por ela, mesmo em dias tão sangrentos. Realmente lamentável terem que passar por isso. Realmente admirável a força que ainda demonstram ter.
* Leia também: Social - Intervenção Militar no Rio
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